Ao ver de perto os danos causados pela prática da alienação parental, pergunto-me onde vamos parar, ou melhor, onde irão parar nossas crianças. Crianças que representam a geração do futuro de famílias, que hoje se perdem em mágoas, frustrações e vinganças.
Quando a relação conjugal acaba, geralmente vem carregada de sofrimento, sonhos desfeitos e da culpa comumente atribuída ao “outro” que passa a ser o grande vilão da história.
Muitos são os genitores, na grande maioria os pais, que sofrem as amargas consequências das práticas do genitor alienador que, impulsionado por um egoísmo cego, maltrata e fere o próprio filho com o objetivo de afastá-lo do ex-cônjuge, satisfazendo, assim, seu mais profundo sentimento de vingança.
É este genitor que bate a porta de nossos escritórios trazendo dor, saudades e muitos processos debaixo do braço.
Paramos para ouvi-lo, uma, duas horas, mas não são suficientes. Ele precisa falar, colocar para fora a mágoa armazenada que insiste em apertar-lhe o peito para, então, organizar a confusão instalada em sua mente enquanto tenta entender o que acontece ao seu redor, devastando sua vida.
Entender porque o filho tão amado e querido, de repente não corre mais em busca de um abraço, não lhe oferece mais aquele sorriso espontâneo, não o chama mais de pai ou mãe.
Este genitor precisa de respostas que não temos, e de uma urgência muito distante da melhor celeridade que podemos vislumbrar.
Empenhado na constante busca de soluções para aplacar a dor e a angustia que vivem estes genitores, a Associação Brasileira Criança Feliz idealizou o Projeto Grupo Vivências, voltado para o apoio e esclarecimento aos pais, vitimas ou não da Alienação Parental.
O Grupo Vivências é gratuito e aberto a todos que dele desejarem participar. Realizado sempre com o apoio de um psicólogo e do coordenador do grupo, proporciona, além do esclarecimento e orientação, a oportunidade destes pais ouvirem e serem ouvidos em histórias tão particulares e, ao mesmo tempo, tão idênticas.
O trabalho desenvolvido no Grupo Vivências não direciona, não instiga. Apenas esclarece e, através da reflexão pode levar o individuo à percepção daquilo que esta vivenciando e da forma como está reagindo à tamanha agressividade.
É neste espaço que, pensamentos, sentimentos e falas se organizam e, muitas vezes, levam esses pais ao entendimento e clareza daquilo, até então desconhecido.
É muito difícil para a vitima da alienação parental, raciocinar em meio a esse turbilhão de sentimentos de raiva, medo, angustia e revolta. Ela perde o discernimento necessário para agir de forma adequada. No primeiro momento, ela não entende bem o que está acontecendo e nem imagina o que poderá acontecer.
A primeira ideia que lhe ocorre é buscar um advogado. Esse advogado deve estar preparado para receber e orientar adequadamente o sujeito vitima ou não da alienação parental, inclusive com a colaboração de outros profissionais, como um psicólogo, fundamental nesses casos envolvendo famílias.
Importante perceber que o advogado recebe, também, o genitor alienador, que precisa tanto, ou mais, de orientação, principalmente do profissional da psicologia. Aqui a função dos profissionais é essencial para o desenrolar da questão trazida.
Muitas vezes o alienador acusa o outro genitor de abuso sexual, envolvendo a criança numa história perversa, fazendo com que estra descreva fatos que não ocorreram e, até, acredite neles.
O advogado tem que estar atento para não compactuar com as supostas alegações trazidas pelo genitor alienador, nem, tampouco, instigar o genitor que alega estar sendo alienado.
Há que se avaliar, com muita responsabilidade, tudo que lhe é trazido, pois, verdadeiras ou não, consequências terão na vida da criança ou adolescente.
A alienação parental não atinge apenas o genitor, mas, também seus familiares, que acabam impedidos de manter contato com a criança ou adolescente envolvido, o que leva a um sofrimento extenso.
O trabalho do Grupo Vivências alcança a todos – pais e familiares. É importante que o grupo familiar conheça a alienação parental para poder lidar com ela e com suas consequências, amparando e fortalecendo uns aos outros.
Através da experiência com o Grupo Vivências Rio de Janeiro, percebo e reconheço a importância desse trabalho. Após alguns encontros, é fácil observar mudanças no comportamento dos envolvidos, graças à informação.
Ao entender a alienação parental, seus motivos e razões, o individuo acaba entendo o alienador. Com essa compreensão fica mais fácil tomar atitudes corretas e adequadas que levam, não à reação, mas ao enfrentamento da situação e da busca da melhor solução ao conflito existente.